Hipertireoidismo
Distúrbio da tireoide “acelerada”
O hipertireoidismo, cuja principal causa é a doença de Graves, é a condição onde existe um funcionamento inapropriado da glândula tireoide, levando a uma produção excessiva de hormônios.
A tireoide produz dois hormônios chamados triiodotironina e tiroxina, mais conhecidos como T3 e T4. Esses hormônios controlam nosso metabolismo e são responsáveis, entre outros, pelo nosso gasto calórico, pela temperatura corporal, pelo nosso ganho de peso, etc.
O hipertireoidismo ocorre, portanto, quando há um excesso de T3 e T4 na circulação.
Quando o problema está na própria tireoide, a primeira coisa que a hipófise faz quando detecta altos níveis de hormônios é suspender a produção de TSH. Portanto, teremos um TSH muito baixo e um T4 muito elevado.
Obs: na prática clínica dosamos o T4 livre (T4L) que é a fração do hormônio quimicamente ativa.
Sintomas do hipertireoidismo
Independentemente da causa, os sintomas do hipertireoidismo são sempre causados pelo excesso de T4L circulante que pode causar:
· Ansiedade e irritabilidade
· Insônia
· Perda de peso sem perda do apetite (às vezes há aumento do apetite)
· Taquicardia = aumento da frequência cardíaca acima dos 100 batimentos por minuto
· Arritmias cardíacas
· Tremores nas mãos
· Retração das pálpebras
· Suores e calor excessivo
· Perda de força muscular
· Diarréia ou aumento do número de evacuações
· Diminuição ou cessação da menstruação
· Bócio
O bócio, último sinal descrito acima, ocorre quando há aumento do tamanho da glândula tireoide. Este crescimento é comum quando há um estímulo permanente para produção de T3 e T4, podendo ser notado clinicamente como um abaulamento no pescoço.
Doença de Graves
A causa mais comum de hipertireoidismo é a doença de Graves. Esta doença é um processo auto-imune onde o corpo inapropriadamente passa a produzir anticorpos contra a própria tireoide. Estes anticorpos atacam, na verdade, os receptores do TSH, fazendo com que a tireoide pense que há excesso de TSH na circulação sanguínea. O resultado final é uma liberação excessiva de hormônios tireoidianos.
A doença de graves é 8x mais comum em mulheres e costuma ocorrer entre os 20 e 40 anos de idade.
Além de todos os sinais e sintomas descritos anteriormente, o hipertireoidismo pelo Graves pode apresentar a chamada oftalmopatia de Graves.
Os anticorpos atacam não só a tireoide, mas também os músculos e o tecido gorduroso da região ao redor dos olhos. Essa agressão causa lesão e edema da musculatura extraocular, levando a uma protusão do olho, além de inchaço e inflamação ao seu redor (edema periorbital).
Algumas pessoas têm olhos naturalmente mais protuberantes. Além disso, o próprio excesso de hormônios tiroidianos pode levar a uma retração da pálpebra. Porém, na oftalmopatia de Graves a protusão é tão importante que é possível ver o branco dos olhos (esclera).
Outras causas de hipertireoidismo
Além da doença de Graves, existem outras causas para hipertireoidismo:
- Doença de Plummer ou bócio nodular tóxico: ocorre pela formação de adenomas, tumores benignos, na tireoide. Esses adenomas são quimicamente ativos e produzem T4 e T3 de modo independente da tireoide ou dos níveis de TSH circulantes.
- Tireoidite: ocorre pela inflamação da tireoide. Pode ser devido a infecções virais, causas auto-imunes outras que não doença de Graves, pós-parto etc…
- Excesso de hormônio tireoidiano: doentes com hipotireoidismo que fazem reposição excessiva de hormônios, podem apresentar um quadro de hipertireoidismo. Neste caso, basta a correção da dose para que os sintomas desapareçam.
- Adenomas secretores de TSH: menos de 1% dos casos de hipertireoidismo ocorrem por secreção inapropriada de TSH. A principal causa são os adenomas na hipófise. Apesar de serem tumores benignos, o seu crescimento pode comprimir estruturas cerebrais e causar alterações neurológicas como perda da visão.
Tratamento do hipertireoidismo
Existem 3 modalidades diferentes de tratamento para o hipertireoidismo: drogas, radiação ou cirurgia. A escolha da mais adequada deve levar em conta dados individuais dos pacientes como idade, gravidade do quadro e causa do hipertireoidismo.
As duas principais medicações usadas no tratamento do hipertireoidismo são o metimazol e o propiltiuracil. Ambas agem impedindo a produção de hormônios pela tireoide. O seu efeito demora em média 3 semanas, já que essas drogas apenas impedem a síntese de novos hormônios, não tendo efeito sobre aqueles já produzidos e circulantes.
Para um controle rápido dos sintomas, pode-se usar drogas beta-bloqueadores como os famosos propranolol ou atenolol.
Cerca de 30% dos doentes conseguem, após 2 anos, suspender definitivamente o medicamento sem apresentarem retorno do hipertireoidismo. Porém, a maioria permanece dependente dessas drogas.
Como os efeitos colaterais são comuns e, às vezes, graves, outras modalidades terapêuticas são necessárias.
A destruição da tireoide por radiação (iodoterapia) é uma opção de tratamento definitivo para o hipertireoidismo. O tratamento consiste na ingestão de iodo radiativo. Como a tireoide utiliza o iodo da alimentação para produzir o T3 e T4, ela passa a concentrar toda a radiação ingerida, sendo destruída pela mesma ao longo de 6 a 18 semanas. A radiação deste tratamento é muito pequena e praticamente restrita a tireoide, não sendo capaz de causar câncer em outros pontos do organismo. Porém, recomenda-se distância de mulheres grávidas nos primeiros 7 dias de tratamento, já que sempre existe alguma chance de exposição a radiação.
A cirurgia para retirada da tireoide é a 3ª opção de tratamento. É a menos usada devido aos riscos de complicações operatórias. Sua grande indicação está nos casos em que a tireoide encontra-se muito aumentada, com grande bócio e risco de obstrução das vias aéreas.
Tanto a cirurgia, quanto o iodo radioativo
curam o hipertireoidismo, mas ao destruírem a tiroide, levam ao
hipotireoidismo. Portanto, a reposição com T4 é indicada posteriormente.