A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é uma doença caracterizada pela presença de múltiplos cistos nos ovários, associados a uma desregulação do ciclo ovulatório e dos hormônios femininos.
O que é ovário policístico?
Um cisto é uma espécie de saco formado por uma fina membrana, contendo líquido ou ar em seu interior. É como aquelas bolhas que surgem na pele após uma queimadura ou no pé após o uso de um sapato desconfortável. O cisto é uma estrutura fechada, não tendo comunicação direta com o tecido no qual ele está inserido.
O ovário policístico, como o próprio nome diz, é um ovário que desenvolve múltiplos cistos. Para entender por que surgem vários cistos no ovário é preciso primeiro conhecer o ciclo ovulatório normal. Vamos resumi-lo:
Ciclo menstrual normal
O ciclo da ovulação ocorre por uma sequência de eventos desencadeados pelo cérebro, ovários e útero, que ocorrem em média uma vez a cada 28 dias (em algumas mulheres este ciclo é maior, em outras menor). O ciclo ovulatório é controlado basicamente por 4 hormônios, dois deles, FSH e LH, produzidos pela glândula hipófise do cérebro, e outros dois, estrogênio e progesterona, produzidos pelos ovários.
Durante a primeira metade do ciclo, o cérebro produz o hormônio FSH, que estimula o ovário a desenvolver vários folículos (um tipo de cisto). Na presença do FSH, os folículos começam a se desenvolver, crescendo e amadurecendo. Sete dias após o início do ciclo, é possível detectar na ultrassonografia do ovário vários folículos medindo entre 9 e 10 milímetros.
Estes folículos ovarianos começam a produzir estrogênio. Conforme os níveis de estrogênio vão crescendo, um dos folículos se torna dominante, desenvolvendo-se mais rápido que os outros, que param de crescer e começam a involuir. Este folículo dominante é quem vai liberar o óvulo no momento da ovulação.
O pico na produção de estrogênio ocorre um dia antes da ovulação. No momento de concentração máxima do estrogênio, outro hormônio da hipófise é liberado, o LH. Estamos agora exatamente no meio do ciclo, ao redor do 14º dia em casos de ciclos menstruais de 28 dias. 36 horas após a liberação do LH, ocorre o rompimento do folículo dominante e a liberação do óvulo.
Após a ovulação, o ovário produz estrógeno e progesterona, que preparam o útero para a implantação e possível gravidez. Se o óvulo não for fecundado, ele é absorvido e a produção de LH, estrogênio e progesterona é interrompida. Sem estes hormônios o útero descama, surgindo assim a menstruação.
Portanto, a menstruação é um sinal que a mulher ovulou, mas não foi fecundada.
Ciclo menstrual na síndrome dos ovários policísticos
Nas mulheres com SOP, os folículos que surgem devido à ação do FSH são incapazes de crescer até um tamanho que provocaria a ovulação, não havendo, portanto, o desenvolvimento de um folículo dominante. Sem o folículo dominante, não ocorre ovulação nem estímulo para os folículos restantes involuírem, havendo acúmulo progressivo dos mesmos, o que é responsável pelo aspecto policístico que os ovários adquirem. A ausência de ovulação e a presença constante de folículos desregula todo o ciclo de produção de FSH, LH, estrogênio e progesterona. A mulher com ovário policístico pode não ovular por vários ciclos, o que é facilmente perceptível pela natureza irregular das suas menstruações.
O que causa a síndrome dos ovários policísticos?
Não se sabe bem ao certo o que provoca a SOP. É provável que a mesma seja o resultado da associação de fatores genéticos e fatores ambientais. Cerca de 10% das mulheres possuem a síndrome dos ovários policísticos em algum grau.
A influência genética é forte. Mulheres com ovário policístico frequentemente possuem uma mãe ou irmã também com a doença. Pesquisadores ainda estão à procura dos genes responsáveis pela doença.
Um achado muito comum nas mulheres com síndrome dos ovários policísticos é um aumento dos níveis de testosterona, o principal hormônio masculino. Outra alteração comum é a resistência à insulina. A paciente produz insulina normalmente, mas os seus tecidos são resistentes a sua ação, causando uma alteração nos valores de glicose no sangue.
Sintomas do ovário policístico
O ovário policístico é chamado síndrome porque possui um conjunto de sinais e sintomas que podem ou não estar presentes. Existe uma grande variabilidade dos sintomas da síndrome dos ovários policísticos, sendo a doença mais branda em algumas mulheres e mais exuberante em outras.
As principais características da SOP são a menstruação irregular, o que indica a presença de ciclos anovulatórios (ausência de ovulação), infertilidade, sobrepeso ou obesidade, aumento dos pelos e acne. Laboratorialmente é comum encontrar níveis elevados de glicose e/ou insulina no sangue.
O excesso de testosterona, chamado de hiperandrogenismo, é responsável por alguns dos sinais e sintomas típicos da síndrome dos ovários policísticos. Hirsutismo é o nome dado à presença de pelos na mulheres em locais com características masculinas. Os pelos costumam surgir acima do lábio superior, no queixo, ao redor dos mamilos e abaixo do umbigo. A mulheres também podem apresentar uma calvície com padrão masculino. O excesso de hormônios masculinos também é o responsável pelo aumento da oleosidade da pele e surgimento da acne (cravos e espinhas).
Acantose nigricans
A dificuldade para engravidar é muito comum nas mulheres com ovário policístico. A frequente ausência de ovulação é a responsável pela infertilidade. Muitas das pacientes com SOP acabam precisando de tratamento para infertilidade para conseguir engravidar.
A ausência de ovulação e as alterações hormonais da SOP aumentam o risco do desenvolvimento do câncer do endométrio (parede que reveste o útero).
Outro achado comum na síndrome dos ovários policísticos é a síndrome metabólica, caracterizada per excesso de peso, resistência à insulina, níveis elevados de colesterol e hipertensão. Pacientes com síndrome metabólica têm maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares.
A acantose nigricans é uma aumento da pigmentação da pele nas regiões da nuca, dobras cutâneas, articulações ou cotovelos, tornando-as enegrecidas, como na imagem acima. É um achado típico nos pacientes obesos e com resistência à insulina.
Outras alterações comuns são a apneia do sono e esteatose hepática.
Tratamento da síndrome dos ovários policísticos
Não existe cura para a síndrome dos ovários policísticos, porém, há tratamento efetivos que conseguem controlar bem os sintomas da doença.
O tratamento é geralmente direcionado para os sintomas mais exuberantes. Nas mulheres com hiperandrogenismo, o uso de pilulas anticoncepcionais ajuda a diminuir a produção de hormônios masculinos. O Acetato de ciproterona, presente no Diane, tem uma boa ação antiandrogênica.
Se não houver resposta esperada após 6 meses de pílula, um diurético chamado espironolactona pode ser usado, por ter também atividade antiandrogênica, principalmente na pele, inibindo o hirsutismo. Outra droga com efeito antiandrogênico que pode ser usada é a Finasterida. Existe um creme chamado Vaniqa, que pode ser usado na pele, pois ele inibe o crescimento de pelos.
O uso de anticoncepcionais, além da parte estética, também é importante para regularizar o ciclo menstrual, diminuindo os riscos de câncer do endométrio. A pílula também age contra a acne.
A metformina é uma droga antidiábetica muito usada na SOP, pois ajuda a controlar a resistência à insulina, ajustando os níveis de glicose sanguíneos. A metformina também ajuda a regular o ciclo menstrual.
Nas mulheres que desejam engravidar, o Clomid® (citrato de clomifeno) costuma ser o medicamento mais usado para induzir ovulação. A metformina é frequentemente usada para aumentar a eficácia do Clomid®.
A prática de exercícios físicos e a perda de peso são importantes, pois atuam melhorando a resistência à insulina, reduzem a produção de hormônios masculinos e protegem contra as doenças cardiovasculares.
Diferenças entre ovário policístico e cisto no ovário
O cisto de ovário e a SOP são doenças completamente distintas.
Na síndrome dos ovários policísticos a paciente apresenta múltiplos cistos de tamanho pequeno, cerca de 5 mm (0,5 cm), espalhados pelos dois ovários. Geralmente estão presentes mais de dez cistos em cada ovário.
O cisto de ovário é diferente. É habitualmente uma lesão única e de tamanho maior, em geral, acima de 2 cm.
Fonte: MD.Saúde